terça-feira, 8 de novembro de 2011

PM na USP. PM no Vieira.

No dia 10 de março de 2009 nós, alunos do Vieira, nos manifestamos contra as medidas autoritárias da direção da escola. A resposta da direção foi a entrada da PM na escola. Na saída, havia cerca de 6 viaturas a nossa espera. Sofremos retaliações de policiais que intimidavam os alunos mandando que todos saíssem da frente da escola, ameaçando mesmo agredir vários de nossos companheiros. O recado era certo - nenhuma forma de contestação à autoridade da direção ou do Estado seria tolerada.

Noite de 27 de outubro de 2011. A PM faz abordagens a alunos da FFLCH na USP. Alunos são "enquadrados" em frente à biblioteca e na Faculdade de História e Geografia. Por volta das 18h30, três estudantes são detidos pela polícia com 20 gramas de maconha e encaminhados à Delegacia da região. Os colegas e estudantes da faculdade entram em confronto com a PM e ocupam o prédio da Administração da Faculdade.

O que as duas ocorrências têm de semelhante entre si?
À primeira vista nada, mas observando mais atentamente é possível compreender o que está por trás de ambos os casos. Vejamos.
A presença da polícia no entorno das escolas ( a famosa Ronda Escolar) é coisa rotineira, e até, em certos casos, há uma demanda da comunidade escolar por mais policiamento. Até aqui tudo bem. Mas as coisas mudam quando se está dentro da escola. Lá, a entrada da polícia só é permitida em caso de solicitação da direção ou de alguma pessoa que tenha presenciado uma ocorrência grave ou algo que ponha em perigo as pessoas ali presentes (por ex. um aluno armado). Nesses casos a polícia entra na escola e averigua o que houve no local. Em casos menos graves (uma briga, um caso de indisciplina ou um aluno flagrado com drogas) o problema é resolvido pela própria direção, que pode tomar as medidas cabíveis. Esse é o procedimento "padrão" (e isso não só em escolas, mas também em empresas, hospitais e até mesmo em nossas casas).
Mas o que ocorreu tanto no Vieira em 2009 como agora na USP? A PM ultrapassa sua função de garantir a segurança nos entornos e invade o ambiente escolar. E com que pretexto ela o faz? Será que o objetivo é manter a segurança dos alunos, como se tem alegado nos meios de comunicação? Quanto a essa última hipótese creio ser fácil mostrar que definitivamente a segurança dos alunos não é o objetivo da entrada da PM na espaço escolar, visto que pelo procedimento "padrão" que descrevi acima as necessidades de segurança já são supridas no essencial. O que faz então a PM dentro das escolas? Nesse ponto creio que só há uma resposta visível - reprimir as manifestações estudantis.
Historicamente a polícia tem servido como ferramenta de contenção social e de repressão às manifestações populares. Basta ver todas as vezes que a polícia entra em uma escola sem que algum crime grave tenha ocorrido - sempre são manifestações estudantis. Basta ver o que a PM fez no pouco tempo de Convênio com a USP: invasão do Centro Acadêmico da ECA; abordagens a estudantes nas dependências das Faculdades, etc.
O que diferencia o que ocorreu no Vieira e o que ocorre na USP é que em um foi uma repressão imediata; já na USP se trata de uma "prevenção"contra futuras mobilizações. A USP sempre foi um dos bastiões do movimento estudantil, desde a luta contra a ditadura militar até à luta pela democratização da Universidade. Um espaço tão vivo como este não poderia ser deixado livre. Era preciso ocupá-lo e militarizá-lo, e foi o que aconteceu. Nos resta agora saber se a resposta que os estudantes estão dando é suficiente para retomar o espaço perdido.

José Vieira de Moraes e USP, tão distantes e tão semelhantes. E lá, assim como aqui, os ex-alunos do Vieira daquela gloriosa turma de 2009 continuam dando exemplo de combatividade e luta libertária contra toda forma de opressão e autoritarismo.

Pelo fim da perseguição a todos os estudantes que se levantam por uma educação de qualidade!
Queremos Educação, não PM nas escolas!
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*Relato sobre a atuação da PM no dia 10 de março de 2009: http://revolucaoeducacional.blogspot.com/2009/03/hoje-vi-os-dois-extremos-do-poder.html
**Reunião com o Sargento da PM no Vieira.