quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Lirismo Social

Todos notam os lirismos poéticos...
Conscientemente ou não.
Talvez na mente, no coração,
Sejam loucos ou céticos.

Mas existem lirismos ocultos,
Lirismos que quase ninguém nota.
Talvez o lirismo simples. Anota,
Ou responde, sobre estes vultos:

Quem nota o lirismo da criança
Na avenida, na calçada, na rua,
Debaixo do Sol ou da Lua,
Vendendo ou vendendo-se com esperança?

Quem nota o lirismo desta esperança,
De brincar e de viver com calma,
De ter limpa e livre a alma
Doce e bela de uma criança?

Quem nota o lirismo de alguém
Que deveria ter um futuro,
Um do tipo mais seguro,
Mas não tem nada nem ninguém?

Quem nota o lirismo da flor
Que murchou em vão,
Sem nenhum perdão,
Perdida no concreto sem calor?

Quem nota o lirismo da fome
Senão quem a sente,
Quem, para matá-la, segue em frente
E não se consome?

Quem nota o lirismo da tragédia?
A televisão não transmite a dor.
A televisão não sente amor
E todos se importam mais com a comédia.

Quem nota, além dos pobres,
O lirismo da pobreza?
Tenha toda a certeza:
Não é nem a realeza, e nem são os nobres.

Quem nota este lirismo triste,
Esta poesia abalada e corajosa,
É quem tem a alma chorosa
E mesmo na escuridão, ainda resiste.

Elvio Fernandes - 2008