domingo, 10 de março de 2013

E 4 anos se passaram (2ª parte)

Continuando nossas recordações sobre a história do movimento dos alunos do Vieira de 2009, nesta postagem publicaremos alguns materiais que até então permaneceram inéditos. Entre eles, documentos do movimento, uma matéria de jornal e um poema de um aluno.

Primeiro esboço das reivindicações dos alunos,
que depois seriam entregues à direção


Poema escrito pelo aluno Elvio Fernandes
no dia 10 de março



Matéria publicada no jornal "Agora" no dia 14 de novembro,
noticiando a manifestação ocorrida um dia antes.
Notem o sensacionalismo da matéria, sobretudo do título. 

E 4 anos se passaram


Em comemoração aos 4 anos da luta que os alunos do Vieira travaram durante o ano de 2009, e que teve seu marco no dia 10 de março, com uma manifestação espontânea dos alunos, publicaremos nesta postagem um texto que saiu em um jornal estudantil chamado "O Mal Educado", que também mantém um blog: www.gremiolivre.wordpress.com, no qual a nossa história é contada brevemente.

Boa leitura!

Estudantes derrubam direção autoritária

É assim em praticamente todas as escolas: diretores mandam em professores e alunos; professores mandam em alunos, e estes, por sua vez, não tem nenhuma voz. Mas em 2009 uma escola do Extremo Sul de São Paulo inverteu isso. A comunidade escolar se uniu e derrubou a diretora, que governava como se fosse a dona da escola.
O José Vieira de Moraes é uma escola estadual localizada no bairro do Rio Bonito, região de Interlagos. É considerado um dos melhores colégios da região e alguns alunos chegam a viajar mais de 10km para estudar lá. Mas o que podia parecer um sonho se tornou um pesadelo quando, em 2009, uma nova diretora assumiu o comando. Ela se propunha a implantar uma rigidez sem limites na escola: queria que alunos e professores se tornassem marionetes. Não tardou muito, porém, para que se instalasse um clima de revolta generalizada.
Mal completava um mês de aula e, no dia 10 de março, logo pela manhã, os alunos trancam os portões do pátio e realizam um protesto contra a direção da escola. A polícia é chamada para conter a revolta e, mesmo assim, ela segue por todo o dia, continuada pelas turmas da tarde e da noite. Durante toda a semana, são feitas manifestações relâmpago – a qualquer momento os alunos descem para o pátio e protestam. A diretora se reúne com alguns representantes dos estudantes e se compromete a cumprir uma série de reivindicações feitas por eles. Passados dois meses sem que nada fosse cumprido, ocorre mais uma manifestação, e a diretora ameaça cinco alunos de expulsão.
Depois disso, o movimento entra em refluxo e praticamente desaparece. No Conselho de Escola, os estudantes, em minoria, travam um lento combate, que, ainda assim, rende importantes vitórias: o direito à entrada na segunda aula para os alunos do noturno; a abolição do uso obrigatório do uniforme e da carteirinha; e a escolha do vice-diretor e da coordenadora.
No segundo semestre uma aliança firmada entre os alunos, funcionários, professores e o sindicato dos professores se compromete a retomar a mobilização. Em meados de novembro, todos paralisam os trabalhos e convocam a comunidade e os pais a protestarem em frente à escola. No mesmo mês, os alunos boicotam o SARESP e participam de um ato junto a outros colégios contra a prova. Em dezembro, conseguem uma reunião com o Secretário da Educação, Paulo Renato, e exigem a saída da diretora. Mas o ano acaba sem nenhuma resposta.
No entanto, logo no início de 2010, o governo do Estado anuncia a remoção da diretora e a nomeação de uma nova gestão. Os alunos comemoram a vitória com um gosto amargo na boca: embora a derrubada da direção expressasse a força que os estudantes haviam conquistado, a nova administração não seria escolhida pela comunidade escolar, como eles queriam, mas pelo governo.
Após a conquista, o movimento se desmantelou. Grande parte dos estudantes envolvidos na luta concluiu o ensino médio e deixou a escola. Os poucos que restaram, estavam dispersos. Embora tivessem o projeto de construir um grêmio que fosse capaz de dar continuidade a essa batalha e manter os alunos organizados, não conseguiram fazer nada nesse sentido. Tudo voltara a ser como antes, e a nova diretoria logo se mostrou tão autoritária quanto à anterior. Os estudantes não tinham mais força para se levantar contra ela e foram se conformando. Mas, no fundo, muitos continuam revoltados com a escola e guardam a mesma raiva que os alunos tinham em 2009. E enquanto for assim, eles tem tudo para se organizar de novo.