quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Por um debate acerca dos uniformes (visão 2) - Prof. Jair

Bem, como parte do debate que deve ser feito sobre essa questão eu postarei um texto do Prof. Jair que ele publicou no Orkut.
Assim teremos duas visões sobre o tema e poderemos fazer uma discussão mais construtiva acerca do tema!
Obrigado!


Alguns esclarecimentos:

O Conselho de Escola não decidiu pelo fim do uniforme, não sei quem inventou isso!

O que houve?

Nossa diretora foi afastada por conta de uma denúncia em jornal de que o Vieira e o Salotti exigiam o uso do uniforme para a entrada dos alunos. Uma sindicância foi instaurada pela Diretoria de Ensino e a única ilegalidade encontrada foi o fato de se vender o uniforme dentro da escola, pois o vendedor não pagaria certos impostos devidos. Tanto é que a senhora diretora voltou ao cargo nesta segunda-feira. Portanto essa história de que o uniforme é inconstitucional não é correta. Escolas, hospitais, quartéis e empresas exigem uniforme. A Constituição não serve para eles?
Por anos o José Vieira cobrou uniforme dos alunos, e os alunos que se matriculavam nesta escola sabiam disso, poderiam optar por outra escola mais "liberal". Sempre a APM da escola bancou o uniforme para quem não tinha condições, e sempre pediu aos alunos de terceiro ano que doassem seus uniformes quando saissem da escola para que eles fossem repassados. Por anos essa prática era citada como exemplo por outras escolas, por pais e por alunos.
Como houve essa denúncia, a Supervisora orientou a Direção a não exigir com rigor o uso do uniforme. Não foi o Conselho de Escola quem tomou essa decisão, pois todos os membros do Conselho são favoráveis a ele (se havia alguém contra ele não se manifestou).
O regimento interno está perfeitamente de acordo com a legislação, pois garante opções para alunos que demonstrem não ter condições de arcar com o preço. Caso contrário a sindicância não teria decidido pela volta da senhora Diretora.

Na minha opinião essa decisão é infeliz. Qual vantagem existe nessa "flexibilidade"? Toda flexibilidade, seguindo esse raciocínio, parece boa, mas não é. E quem disse que deixar de usar o uniforme contribui para "transformar radicalmente as estruturas de poder vigentes no Vieira"? O que cada um tem feito de efetivo para "transformar as estruturas de poder vigentes no Vieira" além de só reclamar e xingar a direção como muitos o fazem via orkut?

Por que apóio o uniforme?

Eu estudei o meu ensino médio no Vieira, e sei como é terrível ir para a escola com uma roupa velha e fora de moda enquanto outros vão com roupas de marcas, consequentemente sendo os mais populares.
No ano passado, durante a excursão para Santos, de longe (longe mesmo) nós víamos grupos de alunos do Vieira se deslocando pelas ruas e tínhamos como saber se estavam ou não perdidos.
Há alguns anos uma aluna do Vieira foi atropelada e faleceu no Rio Bonito, e só a identificaram porque ela usava o "odiado" uniforme.
O alunado uniformizado dá um aspecto de ordem que contribui para o melhor desempenho da escola. E sem essa de que a palavra "ordem" é negativa, porque não é não. Quem disse que a ordem é inimiga da liberdade?
O uniforme dificulta que pessoas estranhas entrem na escola junto aos demais alunos. Se está sem uniforme de longe seria identificado. Com alunos sem o uniforme esse indivíduo passa perfeitamente por um aluno comum.
O adolescente precisa de um poder contrário para que ele desenvolva sua rebeldia. Essa coisa de facilitar tudo, de liberar tudo, de "flexibilizar" tudo causa mais mal do que bem para o adolescente, gera o tal do "rebelde sem causa" ("como é que eu vou crescer sem ter com quem me revoltar, pra eu amadurecer sem ter com o que me rebelar...", como dizia o Ultraje a Rigor). É só ver como agem os filhinhos mimadinhos da mamãe que nunca recebem um não como resposta, nunca passam por dificuldades, nunca são obrigados a nada.

Creio que o fim do uniforme é mais um sintoma de que o velho Vieira está morrendo.

Aos que pensam ser inconstitucional cobrar o uso do uniforme ou qualquer outro tipo de vestimenta, convenhamos, não se deve também, nessa ótica, proibir aquela blusa decotada até o umbigo, não é mesmo? E a liberdade da menina de mostrar o seu corpo se ela assim o desejar? De usar aquela calça colada que mostra até a alma? Ou de um aluno desfilar com uma suástica nazista no peito? Percebem como esse raciocínio é perigoso? Há anos ocorriam confrontos entre os alunos do Iporanga e da Dezenove, e nada impede que eles possam ocorrer daqui a algum tempo. Pensaram num aluno desfilando com um blusão escrito "DZ9" no meio do pátio por entre alunos do Iporanga? E o corinthiano ou palmeirense desfilando com seu uniforme quando seu time venceu algum adversário de forma humilhante, não poderia gerar uma briga de grandes proporções? Muitos alunos devem achar legal isso ocorrer, mas cabe à escola, seja ao Conselho ou à Direção, zelar para que esse tipo de coisa não ocorra.
Por fim, quem nunca gostou do uniforme sempre teve a opção de ir para o Beatriz... Com todo o respeito, comparem as duas escolas. No passado, claro...
O aluno se sente cerceado em sua liberdade por ser obrigado a usar o uniforme? Dar a ele a liberdade de não usar é a mesma coisa que dar a ele a liberdade de fazer o que quer, pois se um tem o direito de questionar o uso do uniforme, o outro tem o direito de questionar o porquê da proibição do celular em sala de aula, do mp3 durante a aula, do fumar na escola, do uso da maconha durante o intervalo (não é o que diz a música "legalize-já"?). Por que um direito teria prevalência sobre o outro?
Ser questionador, ser consciente, defender seus direitos não significa ser contra tudo e contra todos. É preciso pensar nas consequencias dos atos, é preciso ter uma visão mais ampla, menos maniqueista das coisas.
Para um vieirense de muitos anos, como aluno e como professor, é muito triste tudo isso que está acontecendo com a minha escola. Minha, pois parte da minha história está ali, como de vários outros.

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