quarta-feira, 4 de março de 2009

Arte da periferia: meio de libertação dos oprimidos

Esse texto é de um poeta de Taboão da Serra, periferia de São Paulo. O nome dele é Sérgio Vaz e esse texto foi pronunciado na abertura da Semana de Arte Moderna da Periferia, evento realizado em setembro de 2007 no Capão Redondo, que faz um contraste à Semana de Arte Moderna de 22, movimento da classe média e da burguesia paulistas.
Escolhi esse texto por ele ser um exemplo de como os estudantes de periferia podem lidar com a questão da arte e, no nosso caso, como o Grêmio deve compreender a produção artística numa escola que acolhe grande parte do pessoal de uma das regiões mais pobres de São Paulo: o Extremo Sul. E esse texto tem muito a nos ensinar sobre arte, periferia, liberdade e principalmente sobre a vida.

Boa Leitura!

"Sergio Vaz: Manifesto da Antropofagia periférica"

"A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor. Dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos pune. Eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente galopando contra o passado. A favor de um futuro limpo, para todos os brasileiros.

A favor de um subúrbio que clama por arte e cultura, e universidade para a diversidade. Agogôs e tamborins acompanhados de violinos, só depois da aula.

Contra a arte patrocinada pelos que corrompem a liberdade de opção. Contra a arte fabricada para destruir o senso crítico, a emoção e a sensibilidade que nasce da múltipla escolha.

A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.

A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer. Da poesia periférica que brota na porta do bar. Do teatro que não vem do “ter ou não ter...”. Do cinema real que transmite ilusão. Das Artes Plásticas, que, de concreto, quer substituir os barracos de madeiras. Da Dança que desafoga no lago dos cisnes. Da Música que não embala os adormecidos. Da Literatura das ruas despertando nas calçadas.

A Periferia unida, no centro de todas as coisas.

Contra o racismo, a intolerância e as injustiças sociais das quais a arte vigente não fala.

Contra o artista surdo-mudo e a letra que não fala.


É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades. Um artista a serviço da comunidade, do país. Que armado da verdade, por si só exercita a revolução.


Contra a arte domingueira que defeca em nossa sala e nos hipnotiza no colo da poltrona. Contra a barbárie que é a falta de bibliotecas, cinemas, museus, teatros e espaços para o acesso à produção cultural. Contra reis e rainhas do castelo globalizado e quadril avantajado. Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior. Miami pra eles ? “Me ame pra nós!”. Contra os carrascos e as vítimas do sistema. Contra os covardes e eruditos de aquário. Contra o artista serviçal escravo da vaidade. Contra os vampiros das verbas públicas e arte privada. A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.

Por uma Periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor.

É TUDO NOSSO! "


vermelho.org.br

Site Oficial do poeta Sérgio Vaz:
otaboanense.com.br/poetasergiovaz

Um comentário:

MèTiOS disse...

CHEGA de OPRESSÃO, NÃO VAMOS NOS CALAR POR CAUSAS DE AMEAÇAS!!!

LIBERDADE E IGUALDADE PARA TODOS (2)


--porfavor, sem anonimato--